Apresentação do livro "Segredos de Passaporte 2"

Américo – um grande viajante, pode-se dizer que é assim que sou conhecido nas empresas em que trabalhei. Apesar de não ter sido “o descobridor”, andei por esse mundo, igualmente a trabalho, como fez meu homônimo, há mais de 500 anos.


Ele descobriu terras longínquas e eu, dentro da missão que me cabia, as redescobri, passando situações desafiadoras, curiosas e emocionantes. Elas estão descritas, em grande parte, neste meu novo livro “SEGREDOS DE PASSAPORTE 2”.


Tenho certeza de que ele exercerá forte atração para aqueles que se propõem a trilhar o caminho dos Américos, ou será, o caminho das Américas? Mas por que só Américas, se andei também pela Europa, a Ásia, a África, e a Oceania? Caminhei pelas ruas de Paris, da bela Saint Tropez, da mágica Viena, da surpreendente Xangai e da turbulenta Jacarta? Conheci grandes maestros e escritores, enigmáticos personagens, empresários poderosos, executivos de toda a natureza e pessoas comuns do dia a dia.


Também cruzei com mulheres hábeis e competentes sendo que, em certa ocasião, fui surpreendido com o charme de uma delas, bonita e famosa, ao fazer beicinho para dizer:

Je suis désolé...


No desafio de levar os produtos brasileiros para o mundo, desenvolvi métodos eficazes de conquista de novos mercados; as tais relações internacionais foram sempre o meu maior prazer por todos esses anos. O livro conta TUDO, bem, tudo o que posso contar. São cases de grandes empresas, tais como a WEG, General Electric, Philco-Ford e Eberle.


Tornei-me amigo e confidente de grandes empresários, de celebridades, de pessoas influentes, e até de herdeiros reais. Dentre eles fiz grandes Amigos.


Por isso mesmo, recomendo o Segredos de Passaporte 2, da mesma forma que tem acontecido com o primeiro livro Segredos de Passaporte – Crônicas de um Executivo Internacional; ele tem sido usado, com muito sucesso, como leitura complementar para professores e alunos de universidades, executivos de todas as áreas empresariais, jornalistas e pessoas em geral, interessadas no tema de Relações Internacionais.


Fatos reais, são os que conto, fatos reais fazem parte da minha trajetória profissional, que teve início na General Electric, na década de 60, como engenheiro de vendas. Depois, como Diretor Comercial da Eberle, Philco-Ford e WEG, onde participei do planejamento, implantação e consolidação de operações mercadológicas nos cinco continentes. Em grande parte da minha jornada internacional, não havia os recursos atuais de informática e comunicações. Por isso foi indispensável atuação pessoal direta no desenvolvimento dos mercados. As constantes viagens me deram oportunidade de conhecer muitos países. Pude absorver aspectos importantes da cultura de vários povos, seus costumes, histórias e crenças. Assim, as interações ficaram muito facilitadas.


Sabia, de antemão, o que seria adequado ou inadequado nos negócios e nas relações pessoais.


Os acontecimentos narrados nesses livros, cobrindo 38 anos, são do conhecimento de muitas pessoas. Foram elas que me estimularam a colocá-los no papel.


Acreditaram que a minha jornada, rica em aventuras e experiências, pudesse servir de motivação àqueles que se interessam pelo tema das Relações Internacionais.


Esclareço que relações não se estabelecem entre nações, empresas, entidades, mas entre pessoas. E é exatamente isso que abordo em meus livros, o fascinante universo das interações entre seres humanos, tanto no plano pessoal como profissional.


Não se trata de autobiografia, mas de alguns eventos reais, ocorridos durante minhas atividades profissionais. Elas exigiram aprimoramento constante no trato das questões internacionais. As inúmeras manifestações favoráveis ao meu primeiro livro que me levaram a continuar relatando minhas experiências no Volume 2, doravante à disposição dos leitores.


Procurei preencher minhas viagens com participações em seminários, estágios, feiras e cursos afins. Atualmente sou consultor e palestrante.


Talvez pelo fato de ser oriundo de família de livreiros, sempre tive verdadeira paixão por livros. Em todos os lugares, as livrarias foram meus pontos de referência na busca de cultura e lazer. Os livros, como companheiros inseparáveis, ajudaram-me a suportar as longas viagens aéreas, as esperas intermináveis nos aeroportos e a solidão dos hotéis.


Estes livros (1 e 2) podem ser lidos em qualquer ordem, pois os capítulos são independentes. Procurei adotar estilo simples, bem-humorado e com pitada de suspense.


Embora essa leveza possa tornar a leitura mais agradável, ressalto que os fatos aqui narrados contêm exemplos concretos de como o comportamento das pessoas determina a condução e o desfecho de negociações em várias partes do mundo.


Não atribuí demasiada importância às técnicas convencionais de argumentação, nem às influências culturais dos povos. Combinei os dois aspectos para chegar à solução recomendada por Buda: o caminho do meio.


Desejo a todos uma boa leitura!

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Agradecimento no jornal "O Caxiense"


"Agradecemos a Américo Ribeiro Mendes Netto, pela valiosa contribuição à reportagem de capa. Américo é escritor e prepara um segundo volume do livro Segredos de Passaporte, no qual contará parte da história do poeta Oscar Bertholdo. O autor também pode ser lido no blog www.segredosdepassaporte.blogspot.com." página 2 do "O Caxiense".

"Oscar publicou oito livros e participou de seis coletâneas. A exemplo de quase todos os poetas citados nesta reportagem, parte da obra dele pode ser adquirida nos principais sebos da cidade - que também estarão com bancas na feira - por valores de R$ 5 a R$ 10, ou retirados gratuitamente mediante cadastro na Biblioteca Pública. Se procurar bem, o interessado pode ter a sorte de localizar a última obra dele, C'Antigas. Lançada em 1986 com patrocínio da Eberle, ela procurou fazer ao contrário das outras: uma poesia mais acessível, que não remesse se entregar à primeira leitura. A capa do libro traz a imagem de uma lamparina, primeiro produto feito pela metalúrgica caxiense, homenageada na Cantiga da Lamparina.

'Oh, estranha inocência
na lamparina da aldeia
que tremula ingenuamente
quando ampla a noite chega!'

Esses versos são inesquecíveis para Américo Ribeiro Mendes Netto, à época diretor da Eberle - e um dos gramdes responsáveis pelo apoio ao poeta. 'As pessoas que tiveram nas mãos o livro ficaram encantadas com a beleza de seus versos, todos voltados para nossa Serra. O Oscar se intitulava o 'Poeta do Vale.'', lembra Américo, bisneto e neto de livreiros, hoje escritor. Graças a ele, aliás, O Caxiense teve acesso às histórias e obras de Oscar, Olmiro e Mansueto. Américo resgatou seus livros em sebos de Porto Alegre e gentilmente enviou-os ao jornal.

Os Bons poetas de Caxias vão além dos mencionados nestas páginas - e precisariam de mais Américos para resgatá-los e valorizá-los."



Capítulo do livro “ SEGREDOS DE PASSAPORTE – VOLUME II “

Autor: Américo Ribeiro Mendes Netto

“O POETA, O VALE E A EBERLE “

“Estava bonito o vale

com muitos parreirais a beira

de tantas estradas fatigadas

de catar os ecos e inventos .”

OSCAR BERTHOLDO - em seu livro C ´ANTIGAS

Algumas pessoas ainda lembram-se daquela tempestade inesperada. Foi ao anoitecer de 22 de fevereiro de 1991 .Sem qualquer aviso da meteorologia relâmpagos e trovões foram seguidos de chuva torrencial acompanhadas de ventos cortantes.Na ocasião , meu irmão Ernani telefonou :

- “Meco, não posso sair agora de Farroupilha, pois surgiu enorme tormenta. Olhando lá para fora fico com a impressão que o vale está chorando! Horas mais tarde quando nos encontramos sua esposa Yelda comentou:

-Acho que sei porque o vale chorou: O Oscar Bertholdo foi assassinado por ladrões que invadiram sua casa. ....”

Três anos antes havíamos participado, na Casa da Cultura de Caxias do Sul, do lançamento de seu livro C ´ANTIGAS. patrocinado pela EBERLE da qual eu era diretor.

“Tudo havia começado em 1967 quando surgiu a “antologia “ Matrícula “de cinco novos poetas de Caxias do Sul: Oscar Bertholdo, José Clemente Pozenatto,Jayme Paviani,Ari Trentin e Delmiro Griti”““.”Logo após Oscar lançava “ As Cordas “, e em seqüência “O Guardião das Vinhas “, e “A Colheita Comum “.Em 1973 obteve o primeiro lugar na “Poesia do RGS “.Em 1975 com “ Lugar “ arrematou a primeira colocação em concurso nacional de poesia promovido em Goiás.Depois no “I Concurso Nacional de Poesia “ de Campos de Jordão entre 2038 poetas de todo o Brasil foi agraciado com o “ Premio Especial Mantiqueira “.

Mario Quintana em certa ocasião declarou :

- “ Oscar Bertholdo é um poeta original.Quem não gosta das metáforas oscarinas ?”

Em entrevista exclusiva ao Boletim Eberle Oscar comentou algumas passagens da sua vida e de sua obra :

-“Na minha infância em Nova Roma e Antonio Prado eu via o trigo, o milho,a uva,e os animais.A gente vivia cercado pela natureza.Descobri a brisa balançando a cabeleira dos trigais não como metáfora mas como realidade.Minha poesia tem influências de alguns autores : de Murilo Mendes e seu mundo de metáforas,de Jorge lima a vivacidade na linguagem , e de Carlos Drummond de Andrade a matemática enxuta do texto. Meu tema preferido é o Vale Ele é o símbolo feminino da própria alma humana e da fertilidade “.

Tive o privilégio de conviver com Oscar Bertholdo em vários momentos .Com bom humor e entusiasmo falava de sua poesia e do amor a serra gaucha Lembro-me de certa ocasião após meu retorno da Europa .No restaurante Querência além do poeta estavam os colegas diretores da Eberle : Antonio Orestes Boff e Alfredo José Mattana, Glacyr Moré, MarioAlberto Pettinelli Carlos Caetano Pettinelli . Ao final mencionei que havia visitado a cidade de Calw na Alemanha onde nasceu Hermann Hesse escritor famoso também amante da natureza. Para agradável surpresa nosso Oscar comentou:

-“Pois minha coletânea de versos para o livro “ C ´ANTIGAS que a Eberle vai patrocinar terá a forma de poesia acessível da mesma maneira que Hermann Hesse usava em suas composições: simplicidade e forte conteúdo emocional. E já que estamos juntos eu gostaria de apresentar agradecimentos pelo apoio a minha obra. Essa gratidão está contida na homenagem que presto a Eberle lembrando seu primeiro produto : A LAMAPARINA :

“CANTIGA DA LAMPARINA

OH, ESTRANHA INOCÊNCIA

NA LAMPARINA NA ALDEIA

QUE TREMULA INGENUAMENTE

QUANDO AMPLA NOITE CHEGA.

LAMPARINA PEQUENINA

MAS CAPAZ DE SER PRESENÇA,

ANJOS CUIDAM DA TUA CHAMA

VIGIANDO A NOITE IMENSA.

NÃO QUERO VENTOS DE INVERNO,

ELES TE FAZEM TÃO FRAGIL.

QUERO ESTRELAS TRANQUILAS

E A MANSUETUDE DO AFAGO. “

Grande número de admiradores de Oscar Bertholdo aguardam que sua obra seja reconhecida pelo público Enquanto isso continuamos nos deliciando com sua poesia:

“PARA NOSTALGIA DAS LEMBRANÇAS

E O CANSAÇO PLENO DO AMANHÃ

TENHO RAJADAS DE VENTO

VINDO DOS LONGÍNQUOS VALES PERFEITOS. ’

domingo, 7 de agosto de 2011

Entrevista para o Global 21

Américo Ribeiro Mendes Netto: De maneira simples considero que o profissional da área de comércio exterior deve ter dois tipos de competências: mental e cultural para estar apto para a batalha da competitividade mundial.

Global 21 - Em sua invejável trajetória na internacionalização de empresas como a Eberle, Grupo Weg, General Eletric, Philco - Ford, dentre outras, o senhor percorreu cinco continentes em 127 viagens de negócios. Considerando a sua sólida experiência, o que acredita ser absolutamente indispensável para as empresas que querem iniciar o processo exportador?
Américo Ribeiro Mendes Netto -
Não existe passe de mágica. Há que investir em PESSOAL, competente e motivado. A atenção constante a esses dois predicados determinará o êxito da partida e da jornada futura.

G21 - Quais os fatores de competitividade que os profissionais da área de comércio exterior devem possuir para atuar na nobre tarefa de vender para o mercado internacional?
Américo -
A visão que tenho é fruto direto da minha experiência. Procurei reunir aspectos básicos e que foram comprovados na prática. De maneira simples considero que o profissional envolvido em comércio exterior deve ter dois tipos de competências: mental e cultural. Quanto mais próximos estiverem deles, mais aptos estarão para a batalha da competitividade.

1. PREPARO MENTAL
- Paciência: cujo ideograma japonês NIN é um punhal atravessando o coração o qual deve ser retirado com calma, aos poucos, sem precipitação. Combinado com JA, homem, resulta no conhecido NINJA que é o guerreiro paciente, o que sabe aguardar a hora de atacar ou se defender. Os negociadores orientais sabem tirar vantagem da habitual impaciência dos ocidentais. Em Tókio, depois de uma reunião de mais de três horas... sem resultado algum... recebi a decisão do cliente saindo pela escadaria. Estava exercitando a arte do NIN.
Tenho especial admiração pela afirmativa ZEN:
"Sei pensar, jejuar e esperar...!"
- Concentração: não ceder a tentação de perder o foco no objetivo. Pequenos detalhes não percebidos de imediato podem determinar o fracasso ou o sucesso de uma negociação. Uma leve piscadela de olhos entre dois diretores de um potencial cliente em Vancouver me convenceu que estavam blefando... Mantive minha proposta, com convicção, e obtive a encomenda.
- Desligar seu PAC: o Piloto Automático Cultural pode enfraquecer ou mesmo destruir a disposição em negociar com eficácia. Não adianta ficar irritado com falta de pontualidade dos árabes, nem com o fato de que os mexicanos almoçam às 15 horas e que os indonésios colocam a comida no teu prato com as mãos. E por favor, não faça como um colega meu que entrou em pânico por que não encontrou o galeto, estilo caxiense, em Viena!
- Bom Humor: irresistível poder capaz de conduzir e mesmo reverter situações pessoais e profissionais. Em meu livro, no capitulo "Operações de Guerra", relato negociação, sobre baionetas forjadas Eberle, que mantive com o diretor de compras Klaus Kauer da empresa alemã H&K Ele tinha fama de ser o terror dos vendedores, usando a técnica do "joelhaço" do Analista de Bagé, conhecido personagem de Luís Fernando Veríssimo. Procurava desarmá-los, de imediato, para depois negociar. Foi assim comigo:
"Fez sinal para que me sentasse e apontando para mim disparou:
-Áries!
-Gêmeos!-respondi
-Bayer de Munique! - continuou ele.
-Internacional de Porto Alegre! - repliquei
-Lufthansa! -insistiu
-Varig! - não me intimidei.
-Baionetas aqui em cinco semanas! -disse ele.
-Impossível. Nem por milagre. - retorqui
-Quero um milagre. Pago 10 % a mais! - voltou ele.
-Topo, mas não com tolerância na usinagem de 1 / 10. Será que é necessária tanta precisão considerando-se a finalidade do produto?
-Trata-se de princípio de qualidade do qual não abrimos mão.
Respondi então:
-Estou de acordo, mas para cumprir o prazo de entrega o embarque terá que ser via aérea e custeado pela H&K, topas?
-Topo, mas com a condição de que os 10 % adicionais fiquem retidos até a entrega total aqui. Topas?-volveu Klaus.
-Topo. Podes emitir a Ordem de Compra para que a leve em mãos ao Brasil.
Quinze minutos depois voltou com a O.C.
A Eberle cumpriu o prometido e a H&C foi sua cliente por muitos anos.

2. PREPARO CULTURAL
- Conhecimento: de todos os aspectos que cerca a sua atividade: produtos, mercado, empresa, aspectos políticos, econômicos, geográficos etc. Sua busca e aperfeiçoamento nunca devem cessar. Sempre será fator de progresso pessoal e profissional. Em se tratando de contatos com outros países recomenda-se o óbvio: atualizar as informações básicas sobre os mesmos. Fui testemunha de episódio onde certa demonstração de ignorância foi, no mínimo, ridícula. Havíamos sido convidados para almoço no último andar do Toshiba Building no centro de Tókio. Estava lá o presidente do conselho de administração daquela empresa, portanto seu mais alto nível. Perto de noventa anos simpático e muito cordial elogiou a nossa empresa WEG e colocou- se a disposição para alguma manifestação que quiséssemos fazer. Imediatamente meu acompanhante brasileiro adiantou-se e perguntou:
"Senhor Suzuki, quantos habitantes tem Tókio?"
Diante da indagação ele fechou os olhos por alguns minutos. Finalmente encarou seu interlocutor e respondeu:
"Não sei.".
Durante o magnífico almoço que se seguiu o nosso patrício indagador comentou, indignado:"Que vergonha... o presidente mundial da Toshiba não saber quantos habitantes tem Tókio!!"
Naquele momento o Suzuki San* levantou um brinde ao Brasil. Não pude deixar de notar leve ironia ao cruzar seu olhar com o do nosso conterrâneo.
- Desenvoltura Social: naturalidade em conduzir-se nas mais diversas situações. Está muito ligada a personalidade da pessoa. Pode ser desenvolvida, em parte. Tive um colega na WEG que estava confinado no departamento de engenharia. Mas achei que seus enormes conhecimentos técnicos poderiam muito ajudar no desenvolvimento de clientes de produtos especiais. Apostei nele trazendo-o para a área de vendas. Sua quietude e introversão foram desaparecendo com o tempo. Com bom treinamento de relações humanas desabrochou a ponto de torna-se gerente de vendas de importante filial no exterior.
- Línguas: Inglês como base, seguida do espanhol. Uma terceira língua é recomendável dependendo das necessidades pessoais e profissionais. Pela importância da China sua língua oficial Mandarim irá assumir posição preponderante nos próximos anos. O ensino dessa língua está em crescimento em todo o mundo, substituindo, gradualmente o japonês. Vale comentar o retorno às universidades do latim e do grego em cursos técnicos como, por exemplo, na famosa Politécnica de Milão.

G21 - Dentre os inúmeros países - ou regiões - onde atuou na comercialização de produtos, quais os menos acessíveis? Por quê? Que estratégias o senhor aconselharia para driblar tais situações?
Américo -
Em especial o Japão. Em meu livro "Segredos de Passaporte" relato as dificuldades que encontrei para conseguir decifrar a maneira japonesa de negociar. Desde o clima não convencional das discussões e a descoberta dos chamados fatores ocultos que impediam conclusão dos temas propostos. Foram em momentos não formais de trabalho (restaurantes, por exemplo) que descobri a razão da negativa de efetuarem compras da minha empresa: havia compromissos históricos do meu potencial cliente com determinado concorrente nosso. Quando descobri esse empecilho mudamos a nossa estratégia para o Japão estabelecendo empresa própria para buscar outros clientes. Foi exitoso empreendimento cujo sucesso crescente vigora até os dias atuais.

G21 - No prefácio de seu livro "Segredos de Passaporte" é lançada a questão, aparentemente polêmica, "Vender é ciência ou arte?" Qual o seu posicionamento?
Américo -
Acredito na recomendação do Senhor Buda: "O Caminho do Meio".
Vender é uma Ciência, mas que mexe com as emoções, portanto é também Arte.

G21 - Como a sua experiência na área de internacionalizar empresas permeia quatro décadas iniciando em um período em que as comunicações - a internet era, até então, inimaginável - e as estratégias de marketing eram totalmente diversas que as de hoje, quais as principais diferenças na forma de atuar no mercado internacional comparando-se este período?
Américo -
As mudanças maiores não foram nas estratégias e sim nos meios para atingi-las como a Informática e os Meios de Comunicação. Atualmente existe rapidez e precisão de informações, mas continuam válidos os ensinamentos do lendário Sun Tzu que orientam a derrotar o inimigo ...sem batalhar . O marketing, tanto estratégico como o operacional, baseia-se sempre na antecipação de ações e essas na qualidade das informações e de suas interpretações. Hoje disponho de mais velocidade e precisão nas minhas informações. Mas, também, o meu concorrente as dispõe. Portanto a luta é a mesma, mas em níveis superiores.
Como consultor de negócios internacionais continuo buscando soluções mercadológicas usando, é claro , a modernidade dos meios disponíveis. Mas tenho plena consciência de que as DECISÔES continuam sendo tomadas, não por empresas, entidades ou governos, mas por PESSOAS Aqui reside a chave do sucesso: GENTE !! É disso que trata o "Segredos de Passaporte" e também tratará meu próximo livro.
Tudo que aprendi e que continuo aprendendo refere-se a PESSOAS...
Entendo que não é caminho fácil, mas é o único que conheço. Como fazer? Bem...esse é outro assunto... desafiador e empolgante!

G21 - Embora tenha vivenciado em um infindável número de casos bem sucedidos, há algum que tenha lhe marcado mais? Por quê?
Américo -
Um deles está no meu livro no capitulo "A palavra final" Tratava-se de negociação onde tudo parecia claro e definido pela diretoria da Kennet de Salt Lake City, USA. A WEG estava aceita como novo fornecedor de motores elétricos da poderosa empresa dedicada à exploração e refino de cobre. Ao terminar a festiva reunião o presidente comentou com naturalidade: "De parte da diretoria tudo bem, mas sempre que um novo fornecedor de itens importante é homologado é preciso também que ele seja aceito também pelo nosso Gerente Geral de Manutenção. Trata-se de um ato de mera rotina e não tomará muito tempo de vocês."
Parecia irmão gêmeo do Raul Freitas. Recebeu-nos em pé na sua pequena sala e foi logo atirando:
"Sou o responsável pela continuidade absoluta da operação dessa planta. Sou a única pessoa que tem o direito de telefonar para o Presidente a qualquer hora do dia ou da noite. Vocês têm cinco minutos para falar. Tenho outra reunião importante agora. Motores elétricos? Tenho quatro fornecedores excelentes aqui em Salt Lake City e sempre fui muito bem atendido. Do Brasil? O que vocês têm a me oferecer a mais que eu já não tenha? Respondam logo, pois já estou de saída!"
Era o momento do tudo ou nada. Dependendo da nossa resposta a negociação terminaria ali ou iria adiante. Teria que ser resposta de impacto. Durante meses havíamos investido tempo e dinheiro no projeto. Ele era estratégico para a WEG. Colocaríamos tudo a perder em razão de uma simples resposta? Entendendo a gravidade da situação disparei:
"- TEMOS A OFERECER PREÇOS 25 % A MENOS DO QUE NOSSO PRINCIPAL CONCORRENTE."
Foi no alvo! O GGM foi tocado pelo irresistível argumento. Solicitou mais informações sobre nossa empresa. Tivemos tempo de reavaliar nossos custos e apresentar nova proposta. Passadas algumas semanas recebemos o comunicado oficial da Kennet de que a WEG estava 100% homologada.
Sempre menciono esse caso como exemplo de que, em todos os negócios, é vital descobrir de quem é a palavra final. Em empresas grandes muitas vezes é difícil decifrar esta charada. Mas tem que ser tentado.

G21 - Considera que o desconhecimento sobre a cultura, hábitos, costumes, religião, e assim vai, pode conduzir a gafes passíveis de arranhar uma boa negociação? O senhor já passou por alguma situação culturalmente embaraçosa ou no mínimo exótica?
Américo -
Mesmo com todo o preparo ninguém está livre de dar alguma "mancada".
Durante o almoço com Peter Charles, primeiro cliente da WEG em Hong Kong, comentei que um fabricante de compressores de São Paulo, meu conhecido, havia perdido tudo em corridas de cavalo. Depois do almoço fui conhecer o escritório dele. Ficava no edifício em frente a colina onde havia sido filmado o " Suplício de uma Saudade " com a Jennifer Jones e o William Holden. Na sala do Peter me deparei com uma galeria de quadros. Todos mostravam nosso amigo posando ao lado de cavalos. Ele era, simplesmente, presidente do Jockey Clube de HK.
Sem comentários!

G21 - Qual o seu posicionamento frente ao ingresso no mercado internacional das pequenas empresas? Quais as sugestões daria para que possam obter sucesso?
Américo -
Ao lado das considerações já apresentadas eu recomendaria que o pessoal, de todos os níveis, das pequenas e médias empresas, participe de cursos, seminários, associações, exibições e se possível em missões ao exterior. Tudo isso vai criar o CLIMA INTERNACIONAL dentro da empresa. Existem hoje inúmeras entidades que proporcionam esses eventos a custos muito baixos e às vezes, sem custos. Entidades governamentais possuem áreas de apoio ao comércio exterior.
Universidades estão oferecendo cursos regulares e de pos graduação com horários diurnos e noturnos .
Em resumo: para obter sucesso as pequenas e médias empresas devem investir na qualificação de se pessoal. È o óbvio? È! Não há outro caminho.

* Senhor ou Senhora em japonês.

O Engenheiro Américo Ribeiro Mendes Netto é Diretor Geral da Conosco do Brasil Ltda., e-mail: americo@conosco.com.br

sábado, 18 de junho de 2011

Entrevista para o jornal PIONEIRO, fotos dos lançamentos (março de 2008) e reportagens sobre o livro


O que um executivo deve saber


Profissional de grupos como General Electric, Eberle, Philco-Ford e Weg, Américo Ribeiro Mendes Netto fala de experiência internacional.


No livro Segredos de Passaporte, engenheiro conta casos curiosos de negociações no Exterior

Caxias do Sul - Com oito passaportes na bagagem, o caxiense Américo Ribeiro Mendes Netto, 71 anos, percorreu o mundo em 38 anos como executivo de grandes empresas. Em países como Japão, Tailândia, Indonésia, Emirados Árabes, Arábia Saudita e México, colheu experiência e histórias curiosas, que resolveu contar no livro Segredos de Passaporte, lançado no dia 11 de março. A publicação saiu tarde, conta Mendes, que sempre ouviu pedidos de colegas e conhecidos para registrar o que aprendeu em negociações realizadas em culturas tão diferentes. No ano passado, resolveu colocar no papel.

- Procurei usar um pouco de humor, um pouco de suspense, para tornar a leitura mais fácil. Mas tudo é verdadeiro - afirma o engenheiro, que trabalhou na Eberle, na Weg, na Philco e na General Eletric.

O objetivo da publicação, ressalta Mendes, não é dar conselhos ou ditar regras, apenas contar histórias. Mas qualquer empresário que queira fazer negócios no Exterior pode aprender que, numa transação, mais importante que as empresas, são as pessoas, ou que é mais fácil fechar um contrato num happy hour do que numa sala de reuniões.

- Não é uma autobiografia. São casos reais que aconteceram em várias partes do mundo.

Alguns desses casos, o hoje consultor e palestrante na área de mercado internacional contou em entrevista ao Pioneiro.

Culturas diferentes

- No geral, passei por mais de 60 países, me fixei mais em alguns. Tive bastante atuação no Extremo Oriente, Japão, Coréia, China, Hong Kong, Tailândia, e também no Oriente Médio, Emirados Árabes, Arábia Saudita e Egito. Uma coisa que muitos não aceitam é que todos os seres humanos são iguais. Ele pode ter culturas diferentes, hábitos. A primeira coisa é entender como a pessoa é. A convivência me deu bastante conhecimento. O que um chinês pensa, o que um japonês pensa, quando senta numa mesa para fazer negócios? Como é a vida dele? Ou um alemão, um americano. Isso foi me ajudando bastante a ver o que eu podia esperar e o que eu não podia esperar. Uma reunião com japoneses durou quatro horas, terminou e não se tinha decidido nada. Um assunto banal. Saímos da reunião, descemos uma escada, e ele disse: "sobre aquele assunto, estamos de acordo." Em compensação, na Alemanha, no tempo que trabalhava na Eberle, negociamos baionetas para as forças da Otan, e tinha uma empresa lá com grande negócio e não havia jeito de resolver. Fui lá, era uma fábrica de armas. A reunião durou 40 minutos, era um negócio enorme. Resolvi e fui embora.

Etiqueta árabe

- Dubai e Abu Dhabi são as duas cidades principais dos Emirados Árabes. Há uma estrada de 200 quilômetros que atravessa o deserto. Eu tinha uma reunião em Abu Dhabi, para introduzir os motores da Weg. Quando saio de Dubai, o motorista que estava comigo bate em outro carro. E lá nos Emirados as coisas começam muito cedo por causa do calor. Meu compromisso era de manhã. Com a batida, chegamos com três horas de atraso. Pensei, estou perdido. Em Dubai, não aconteceu nada. O camarada me recebeu e disse que os convidados - eram 14 - não tinham chegado ainda. Me colocaram numa sala com ar-condicionado, chá de hortelã gelado. Esperei mais duas horas, e eles começaram a chegar. Não pediram desculpa, nada. No mundo árabe, não dá para marcar nada. Não existe horário para eles.

Choques

- Em Dubai, fui numa feira de equipamentos para água. Aí noto que concorrentes de várias marcas pertencem a um dono só, um sheik. Ele deixa o pessoal brigar no mercado, mas é o dono. Eu conversei com esse sheik e ele me mostrou um modelo que me ajudou. Ele tinha 28 anos, estudou em Oxford. As quatro empresas eram dele, concorrentes entre si. Uma delas era minha cliente. Aqui eu ficaria indignado. Outro choque que a gente tem é o México. O mexicano é calmo, bem-humorado, não se altera com nada, almoça às 3h da tarde e vai jantar às 10h da noite. Não adianta combinar uma reunião para discutir um assunto. Você faz uma ata e eles nem lêem. De repente, resolvem. A parte social é a vida. Qualquer mal-entendido pessoal, você está ferrado. Tem que ter paciência, eles falam da família.

Pessoas

- Você tem que saber com quem está falando. Com americano, inglês, canadense, você pode estalecer uma agenda. Eles são mais objetivos. Você pode focar um assunto, discutir. Com japonês e árabe, é mais difícil. Não é que eles estejam errados. Eu tinha dois colegas que estavam brabos, indignados. Eu dizia, eles são assim. Quer fazer negócio? Conhece o lado humano deles. No Japão, eles não fumam no local de trabalho. Então eles são loucos para marcar uma reunião fora da sala deles. Ficamos numa sala, os três fumando como desesperados. Nossa negociação era em inglês. De repente, eles começam a falar em japonês entre eles. Não entendi nada. Dali a pouco, eles ficaram em silêncio. Pensei, será que fiz alguma bobagem? Aos poucos fui entendendo que fazia parte da cultura zen-budista. Eles precisavam parar, limpar a mente. O japonês jamais dá a entender que há qualquer desentendimento entre eles. Tudo o que é falado é decidido por consenso. Sabendo disso, não adianta querer informações de um ou de outro. Eles nunca vão dar opinião. O chinês, sim, dá opinião, toma decisões. Eles são diferentes. Numa reunião com coreanos, tem que ter muito cuidado quando fala do Japão. Eles têm uma desavença histórica.

Projeto

- Participei de um grande empreendimento na Arábia Saudita. Tem usinas de dessalinização de água do mar. Eles pegam a água do mar, tiram o sal, e e ela fica potável. É um projeto gigantesco. Como você vai descobrir quem é a pessoa, como eles agem? Eles não têm mão-de-obra especializada. Contratam uma empresa para fazer o projeto. A Weg fez um grande pacote na Arábia nesse caso da usina. Estava tudo pronto, os equipamentos já em fabricação, um negócio enorme. Um dia, em Jaraguá do Sul, aparece na portaria uma pessoa, parecia um mendigo, maltrapilho. Queria falar comigo, disse que vinha da Europa, queria dar uma olhada no equipamento. Disse que era consultor do dono. Eram 17 motores, todo mundo orgulhoso. Ele quis ver a folha de testes. Resumindo, tivemos que mandar todos os motores para um laboratório na Escócia, pagamos uma fortuna, para poder concluir. Lição para o futuro: descobrir quem é o consultor do sheik. Muitas empresas brasileiras quase foram à falência por não compreender que num contrato pode ter surpresas. Sabe como se tenta descobrir? Num happy hour.

O Brasil lá fora

- Alguns empresários fazem um trabalho admirável. Eles conseguiram mostrar que isso aqui não é terra de índio. Tem um parque eletromecânico, eletrônico. Mas tem muita falta de experiência. O camarada pensa que tem um bom preço, oferece e está tudo resolvido. Aumentam as devoluções. A reputação em muitos campos ficou muito abalada pelo amadorismo. Durante muitas décadas, o país só queria exportar, não permitia a importação. Está melhorando, o Brasil está reduzindo os impostos de importação. Tem um longo caminho a percorrer.

Com 26 capítulos, Segredos de Passaporte - Crônicas de um Executivo Internacional, de Américo Ribeiro Mendes Netto, é uma publicação da editora Literalis, de Porto Alegre. O preço é R$ 29. O livro traz fotos do autor em suas passagens por vários cantos do mundo, além de imagens de seus vistos carimbados.


Abril, 2008.

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