'Oh, estranha inocência
Capítulo do livro “ SEGREDOS DE PASSAPORTE – VOLUME II “
Autor: Américo Ribeiro Mendes Netto
“O POETA, O VALE E A EBERLE “
“Estava bonito o vale
com muitos parreirais a beira
de tantas estradas fatigadas
de catar os ecos e inventos .”
OSCAR BERTHOLDO - em seu livro C ´ANTIGAS
Algumas pessoas ainda lembram-se daquela tempestade inesperada. Foi ao anoitecer de 22 de fevereiro de 1991 .Sem qualquer aviso da meteorologia relâmpagos e trovões foram seguidos de chuva torrencial acompanhadas de ventos cortantes.Na ocasião , meu irmão Ernani telefonou :
- “Meco, não posso sair agora de Farroupilha, pois surgiu enorme tormenta. Olhando lá para fora fico com a impressão que o vale está chorando! Horas mais tarde quando nos encontramos sua esposa Yelda comentou:
-Acho que sei porque o vale chorou: O Oscar Bertholdo foi assassinado por ladrões que invadiram sua casa. ....”
Três anos antes havíamos participado, na Casa da Cultura de Caxias do Sul, do lançamento de seu livro C ´ANTIGAS. patrocinado pela EBERLE da qual eu era diretor.
“Tudo havia começado em 1967 quando surgiu a “antologia “ Matrícula “de cinco novos poetas de Caxias do Sul: Oscar Bertholdo, José Clemente Pozenatto,Jayme Paviani,Ari Trentin e Delmiro Griti”““.”Logo após Oscar lançava “ As Cordas “, e em seqüência “O Guardião das Vinhas “, e “A Colheita Comum “.Em 1973 obteve o primeiro lugar na “Poesia do RGS “.Em 1975 com “ Lugar “ arrematou a primeira colocação em concurso nacional de poesia promovido em Goiás.Depois no “I Concurso Nacional de Poesia “ de Campos de Jordão entre 2038 poetas de todo o Brasil foi agraciado com o “ Premio Especial Mantiqueira “.
Mario Quintana em certa ocasião declarou :
- “ Oscar Bertholdo é um poeta original.Quem não gosta das metáforas oscarinas ?”
Em entrevista exclusiva ao Boletim Eberle Oscar comentou algumas passagens da sua vida e de sua obra :
-“Na minha infância em Nova Roma e Antonio Prado eu via o trigo, o milho,a uva,e os animais.A gente vivia cercado pela natureza.Descobri a brisa balançando a cabeleira dos trigais não como metáfora mas como realidade.Minha poesia tem influências de alguns autores : de Murilo Mendes e seu mundo de metáforas,de Jorge lima a vivacidade na linguagem , e de Carlos Drummond de Andrade a matemática enxuta do texto. Meu tema preferido é o Vale Ele é o símbolo feminino da própria alma humana e da fertilidade “.
Tive o privilégio de conviver com Oscar Bertholdo em vários momentos .Com bom humor e entusiasmo falava de sua poesia e do amor a serra gaucha Lembro-me de certa ocasião após meu retorno da Europa .No restaurante Querência além do poeta estavam os colegas diretores da Eberle : Antonio Orestes Boff e Alfredo José Mattana, Glacyr Moré, MarioAlberto Pettinelli Carlos Caetano Pettinelli . Ao final mencionei que havia visitado a cidade de Calw na Alemanha onde nasceu Hermann Hesse escritor famoso também amante da natureza. Para agradável surpresa nosso Oscar comentou:
-“Pois minha coletânea de versos para o livro “ C ´ANTIGAS que a Eberle vai patrocinar terá a forma de poesia acessível da mesma maneira que Hermann Hesse usava em suas composições: simplicidade e forte conteúdo emocional. E já que estamos juntos eu gostaria de apresentar agradecimentos pelo apoio a minha obra. Essa gratidão está contida na homenagem que presto a Eberle lembrando seu primeiro produto : A LAMAPARINA :
“CANTIGA DA LAMPARINA
OH, ESTRANHA INOCÊNCIA
NA LAMPARINA NA ALDEIA
QUE TREMULA INGENUAMENTE
QUANDO AMPLA NOITE CHEGA.
LAMPARINA PEQUENINA
MAS CAPAZ DE SER PRESENÇA,
ANJOS CUIDAM DA TUA CHAMA
VIGIANDO A NOITE IMENSA.
NÃO QUERO VENTOS DE INVERNO,
ELES TE FAZEM TÃO FRAGIL.
QUERO ESTRELAS TRANQUILAS
E A MANSUETUDE DO AFAGO. “
Grande número de admiradores de Oscar Bertholdo aguardam que sua obra seja reconhecida pelo público Enquanto isso continuamos nos deliciando com sua poesia:
“PARA NOSTALGIA DAS LEMBRANÇAS
E O CANSAÇO PLENO DO AMANHÃ
TENHO RAJADAS DE VENTO
VINDO DOS LONGÍNQUOS VALES PERFEITOS. ’